domingo, 28 de setembro de 2008

Palavras de Um Profeta




Novo dia, tudo velho, mesmos sonhos, mesmos medos, não há o que acrescentar, uma vida de dias sem brilho, de chão sujo, de céu cinza, chuvas tempestuosas, ventos soprantes, comida sem sal, é tudo que posso dizer.

Porém eu resolvera deixar tudo para trás, tudo que ainda não fiz, tudo que eu ainda não fui, é como sepultar quem ainda não morreu, e assim o farei.

Tomo a última dose de café em minha casa, beijo pela última vez os meus entes queridos, saúdo todos que ainda respeito, e tomo caminho, como uma locomotiva que não para em ocasião alguma.

E é assim que no transcorrer de dias e noites, vejo tantos olhos diferentes, e tudo aquilo que não se aprende em livros e revistas.

Passaram-se anos, longos anos, e eu perdido em meio à tantos lugares, em cada um, deixo uma parte de mim, à procura do que ainda não achei.

Em um pequeno vilarejo, no qual eu resolvera descansar e buscar paz, em um dia seco, o chão rachado pelo sol, o vento soprava tão intensamente, cantava em meus ouvidos, os pássaros à sobrevoar o meu céu, estava muito quente, a sede já surgia, mais ainda assim eu me punha à andar, como um cão sem dono, errante, como um barco à vela, empurrado pela força do vento, e a força da falta de vida em meu semblante estrangulado.

Certamente eu já andara por horas a fio, não possuía exatidão de onde me encontrava, o calor aumentava, a poeira subia ainda mais, com o vento que parecia ter pressa. Eis que avisto um casebre, madeira velha, oca, quase podre, o teto era coberto de palha, o chão de terra batida, o clima era simples, talvez eu nunca imaginaria que pudesse sentir tamanha vontade de estar em um local tão inóspito, mas a vontade fazia-se valer.

Havia um sujeito, sua aparência era a de um ermitão, um sábio, um visionário, e isso atraia-me ainda mais. Suas vestes eram da cor da terra, longas, apenas os pés ficavam de fora, pés esses calçados em um simples par de sandalhas de couro. Sua pele era jambo, marcada pelo tempo, pelos já brancos, entretanto a mesma ainda brilhava como o sol e como o ouro.

Tal homem possuía traços finos, olhos verdes como o oceano, barba espessa e branca, seu cabelo era ralo, sua calvície já era evidenciada pelos poucos fios de cabelo que continham em sua cabeça.

Ale eu estava, de frente para o homem, tão semelhante à um homem do deserto. Finalmente após toda a minha observação, lenta e cuidadosamente, o senhor solta palavras que me causaram até arrepios.

- Filho, que faz em terras tão quentes e arenosas, haveria algo que pudesse lhe chamar a atenção por aqui?

Tão pouco o meu interlocutor terminara o seu discurso, tomaria eu a palavra.

- Não sei como me referir à sua pessoa.

Ele tão gentilmente proferiu algumas outras palavras.

- Filho, chame-me apenas de ‘’você’’, certo?

Logo em seguida, eu respondera:

-Perfeitamente. Honestamente, deixei meu lar, meus amigos, minha família, tudo, e tomei as estradas, os mares, os céus, em busca...

E neste momento, faltavam-me palavras. Mas não faltou sabedoria ao ermitão que imediatamente completou o meu raciocínio.

- Então deixastes tudo, abandonastes tudo aquilo pelo que lutou, e tomastes as estradas, o céu, as águas, em busca do que não encontra em tua terra natal, não é?

Não me surpreendia a sua sabedoria, pois aquele olhar sereno demonstrava que aquele indivíduo era único, iluminado.

Tomei fôlego e o respondi:

- Meu senhor, realmente lhe confesso, deixei tudo por algo que ainda falta, notastes perfeitamente, admito.

Suavemente e delicadamente, o ermitão sorria e dizia:

- Filho, compreendo o que sentes, é como um barco que precisa adentrar em águas mais profundas para não encalhar, e você, filho, precisa movimentar-se, precisa de vida, necessitas da liberdade, assim como o pássaro que tens asas, e precisa delas para tornar-se feliz. Seja como um pássaro, abra suas asas, busque o que ainda lhe falta, quem sabe um dia, tornará a viver em tua terra natal?!

Eu refletia à respeito de tudo que aquele bom senhor me dizia, e lhe respondi, após algum tempo:

-O que falas é verdade, procuro por coisas, que sempre me pareceram longe, sempre me senti preso, encurralado, é como se toda a minha verdade ainda estivesse por vir.

Mais uma vez o ermitão sorria levemente e voltava a falar, após fitar-me por longos minutos.

- A tua verdade é a terra, o mar, o vento, a brisa da praia, a natureza, seja livre, viva, o que queres é a liberdade, quando não é livre, não és vivo, sabes disso, apenas repito, para que nunca mais esqueça, o que já nasceu sabendo, apenas repito, não lhe ensino, me entende, filho?

A curiosidade me tomava por completo, como um homem que encontrei no meio de um deserto poderia saber tanto de mim?

Prontamente o interroguei:

- Sabes de mim o que muitos não sabem, ou que ate não acreditam, quando digo. Diga-me, como soubestes de tantos detalhes sórdidos?

O sábio andarilho que parecia enrolar algum tipo de fumo, sacou rapidamente um pedaço velho de papel, encontrado em um dos seus muitos bolsos, e indagou-me?

- Filho, permitiria à este bom velho fumar, enquanto partilho de tua companhia?

Evidentemente eu não negaria ao meu novo amigo um simples desejo.

- Fume o quanto quiser, meu senhor.

Ele agradeceria, tão logo eu concordara com o seu desejo, e falara com tom profético:

- Filho, tudo que temos na vida, é simplesmente o direito de viver, somos todos diferentes, assim como te sentes ávido por conquistas, novidades e mudanças, há quem deseje coisas completamente diferente das que procura, não fazendo que estejas você errado, no final, possuímos apenas a vida, portanto, esteja vivo, antes que a vida já não te permita mais o que ela hoje te oferece.

Certo de tudo que aquele senhor dizia, não poderia fazer outra coisa, senão agradece-lo inúmeras vezes.

Mais uma vez ele tomava a palavra:

- Filho, o meu fumo terminou, sinto as pernas doerem, devido estar sentado por tanto tempo, e preciso seguir adiante, o sol brilha, irei o acompanhar, se me permitir.

Sentia na carne grande saudade deste homem que nem se fora ainda, e que eu mal conhecera. Resolvi propor-lhe um novo encontro:

- Gostaria de vê-lo novamente, para que possamos conversar.

Em tom de despedida, ele me respondia:

- Sim ,filho, nos veremos novamente, o mundo é pequeno, tão pequeno, o sol e a lua nos aproximarão novamente, assim como ocorreu hoje.

Não havia mais o que dizer, simplesmente o olhei, e ele caminhava lentamente, apoiado em um toco de madeira qualquer, sumindo em meio à areia que subia, carregada pelo vento.




quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um Conto dos Sete Mares


Finalmente eu acordava, após longas horas de sono, sonhos e pensamentos, muitos pensamentos. O meu dia não iniciara de uma boa maneira, pois eu sentia um grande pesar inundando a minha alma, fazendo-me sentir tão triste, tão desolado à ponto de questionar o porquê de minha existência.

Então eu resolvera abrir as cortinas de meu pequeno quarto, e não apenas as cortinas, abri também as janelas, no intento de captar alguma boa energia proveniente do sol e dos ventos que à todo momento invadiam o meu aposento, sem ao menos pedir permissão.

Havia uma pequena melhora, no entanto ainda me sentia tomado por uma complexa e misteriosa tristeza, que parecia perfurar a minha alma, assim como o punhal perfura a carne.

O dia passava tão vagarosamente, a noite pronunciava-se a sua chegada, e eu exasperado e cansado de sentir-me como um barco à deriva, decidi por caminhar até as areias do mar, na esperança que alguma positividade pudesse arrancar-me ao menos um mísero sorriso.

Após alguns breves minutos de caminhada, deparei-me com o mar, completamente deserto, pois a noite já havia tomado por completo o ambiente no qual eu me encontrava. O céu estava vermelho, anunciando um dia ensolarado

As estrelas apresentavam-se de forma magistral, combinando a sua coloração dourada com o vermelhidão do céu, de certo essa bela imagem já valera desistir do meu rotineiro sono, para estar em contato com um local tão bonito.

As ondas estavam muito bravas, arrebentando de forma arrebatadoura na praia no qual me encontrava, o silêncio permitia-me pensar e descartar todos os meus problemas e aflições.
No entanto algo ainda faltava, sem dizer quanto um súbito desejo de adentrar às bravias águas do mar. A areia desmanchava-se, enquanto eu me aproximava da água, e surpreendentemente as mesmas acalmavam-se, de tal forma, que assemelhavam-se à um tapete, de tão brandas que se apresentavam.

Havia uma energia tão pura e bela que emanava da água, haviam cores surreais que chegavam até mim, sem dizer de cantos maravilhosos que pareciam me chamar para o fundo do mar.

Queria ter certeza que não passava de minha fértil imaginação, mas era tão real, tão divino, tão arrebatador, que o meu interior desejava incessantemente que toda essa fantástica experiência fosse real.

Repentinamente surgem bolhas na superfície, e dois seres incríveis se apresentam, era fantástico, uma mistura de homem e peixe, peixe e homem, mais conhecidos como tritão e sereia.

Ele possuía uma aparência fantástica, longos e claros cabelos, altivo, mas sutil ao mesmo tempo, seus olhos transmitiam grande força, honra e bondade. Enquanto a sereia possuía inimaginável beleza, cabelos longos e escuros como a noite, tinha um ar de inocência e um rosto angelical,

Sem dúvida esse seria o mais lindo dia de toda a minha existência. Após uma longa troca de olhares entre os três, eles ofereciam-me suas mãos, como um convite ao mundo submarino. Devo admitir que sentia medo, pois obviamente eu suportaria pouco tempo sem respirar no fundo mar, mas nada me importava mais, eu trocaria todo o resto de minha vida por tamanha experiência.

E assim submergimos nas frias e límpidas águas do mar, e outro detalhe incrível deixou-me ainda mais perplexo, ao submergirmos, as ondas voltaram a arrebentar com fenomenal força, talvez ainda superior à outrora.

Nos encontrávamos a alguns minutos submersos, e em instante algum eu sentira falta de ar, tudo isso não possui qualquer explicação plausível.

Os dois me tomavam pelos braços, cada um segurando em um dos braços, e sorriam toda vez que alguma dúvida surgia em minha mente, parece que liam meus pensamentos.

Os animais aquáticos o seguiam, peixes, golfinhos, polvos, dentre outros. Parece que eram vistos com profunda admiração por todo e qualquer ser.

Nadamos durante vinte ou trinta minutos, eu não possuía noção alguma da profundidade em que nos encontrávamos, e realmente isso já não possuía importância alguma.

De repente, senti novamente a presença de uma pura energia, a mesma que eu sentira quando os encontrei, mas parecia ainda mais forte, muito mais forte, e ainda mais concentrada.

Deparei com um portal luminoso, e tal liberava uma gama de cores incríveis, era tudo apaixonante, eu sentia-me agraciado por estar em um lugar tão exuberante.
Então o portal foi aberto, não havia mais água, e os seres aquáticos que até aqui me conduziram, não mais possuíam nadadeiras, escamas ou guelras. Andavam assim como eu, um humano.

Os meus olhos arregalavam-se com as suas mudanças, era incrível. Resolvi perguntar por seus nomes, e eles apenas sorriam de forma muito doce. Fui conduzido até um imenso portão, feito de um material muito parecido com o cobre, o seu tamanho era majestoso e imponente, muito maior que um homem. Senti-me pequeno diante de um lugar tão perfeito.

Eis que abre o portão, os meus novos amigos, assim os considerava, me encaminharam ate um homem, um senhor de longa barba, olhos da cor do mar, cabelos brancos e longos, sua vestimenta era muito semelhante aos trajes gregos. Esse senhor exalava nobreza, seriedade, justiça, altivez e agia de forma muito polida e ponderada.

Após muito nos olharmos, eis que ele me surpreende e fala como um humano.
- Muito bem vindo, jovem, a sua visita é uma grande honra para o nosso povo.
Permita-me que me apresente: Sou Jahhor, o rei deste humilde povoado. E ti, filho, como se chama?

Tremulamente, consegui pronunciar algumas poucas palavras:
- Me chamo Nestor, e simplesmente me sinto agraciado por estar na presença de seres magníficos e de tão pura energia, como vocês. Permita-me mais duas perguntas. Os amigos que me trouxeram falam? E quais os seus nomes?

Então responde o nobre rei:
-Sim, jovem, eles falam, assim como eu e meu povo. Apresentem-se ao Nestor, por favor.
Primeiramente dirigiu-se à mim o tritão.
-Chamo-me Razzor, e senti-me atraído pela sua energia muito ligada às profundezas do mar, por isso pedi permissão ao nosso líder, para que o trouxesse aqui.

Após Razzor, a sereia dirigiu-se até mim e pronunciou-se:
-Chamo-me Kyor, e me sinto privilegiada em ter a chance de conhecer um humano de bom coração, como você, é tão raro que uma energia tão pura,proveniente de um humano chegue até nós.

Eis que resolvi arguí-los sobre todas as dúvidas e questões que arrebatavam o meu ser, e gentilmente eles as respondiam, sempre sorrindo e de bom grado.

Após muita conversa e termos nos alimentado nos aposentos do rei, me fora dito que infelizmente eu deveria ser levado até a superfície novamente, pois eu não poderia permanecer mais do que doze horas neste reinado.

As lágrimas rolavam em meu rosto, mas eu compreendia e aceitava as suas normas. Fui então encaminhado até a saída do portal, por Kyor e Razzor, e eles novamente tinham escamas, guelras e barbatanas. Ao longo da viagem, senti-me sonolento, a ponto de não conseguir resistir e simplesmente dormir.

O dia iniciara, manhã tenra, o sol vibrava com toda a sua força e calor, o céu límpido, apenas algumas brancas nuvens que contemplavam os meus olhos ofuscados pela luz radiante do dia. E eu completamente molhado, não possuía noção alguma do porquê de encontrar-me atirado na areia.

No entanto, uma sublime sensação acalentava a minha alma. Era como um sonho, inimaginável, intangível, impossível, mas tão real em minha mente. A sensação de ter permanecido no mar, no fundo do mar, por horas a fio.

Havia também a sensação que estive na presença de alguém, mas para mim isso tudo não passa de um mero sonho, mera fantasia, porém como eu desejo que toda essa sensação fosse verdade.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um Mundo à Parte



Pensam que sou gente, um homem, uma criatura, um sonho, uma lenda.
Talvez de tudo isso eu tenha um pouco, mas a minha verdadeira essência poucos conhecem, muito poucos. Os homens tentam me ver, me dão nomes, como se me conhecessem de fato, o que é uma lástima, pois só fui visto em livro e contos, e nada mais.
Moro nas florestas temperadas, deixo as minhas pegadas na terra batida, sinto o frescor do dia, a chegada da lua, as chuvas da primavera, contemplando o criador de forma pura e singela.
Devo assumir que deixo pistas de minha existência, pois muitas vezes o meu choro e meus lamentos são tão agudos, que tornam-se perceptíveis ao mundo dos homens, e por isso, estimulam caçadores a me matarem e entregarem a minha cabeça como troféu, em troco de recompensa material, ou seja, dinheiro.
Os meus semelhantes se encontram sempre nas noites de lua minguante, e deliberam sobre uma variedade enorme de assuntos, confabulam, riem e refletem, em busca de respostas para a existência de nossa sociedade. Os mais jovens e inexperientes, desejam avidamente pela exposição total de nosso clã ao mundo mortal, porem não compreendem que se revelarmos tal segredo, causaríamos mudanças de grande propriedade, tanto ao mundo dos homens, como em nosso mundo. E eu me pergunto todos os dias, o que seria de nossos anciões? O que aconteceria se muitos de nossos companheiros se deixassem corromper pelo mundo humano, e entregassem detalhes secretos, nunca antes revelados aos mortais? Poderia ser o fim, não apenas de meus similares, mas possivelmente de todo o universo paralelo.
Então, em nosso último encontro, decidimos que apenas daríamos algumas pistas tão singelas quanto o sorriso de uma criança, aos seres merecedores.
E eu, continuo a ser as manhãs ensolaradas, a terra batida, a divina lua, as florestas de árvores cônicas, sou a lenda, uma criatura, um sonho, e quem sabe algo de mim pode conter em você, quem sabe...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Condenado

Sentei em tua mesa, comi de teu pão, bebi de teu vinho, partilhei de vossa presença, rí ao teu lado, jurei lealdade e amizade eternamente, e mesmo assim tornei-me o que sou, sem ao menos pensar nas consequências de meus atos vils e insolentes.
Me destes teto, a roupa que trajo, a amizade da qual desperdiçei. Pude servir à algum própósito, pois antes nunca tivera valor, nunca usara de minha força e poder em benefício de outrem, sempre buscando a vitória, a minha própria vitória, e contigo sobrepujei todos os meus desejos sórdidos e carnais, tornei-me gente, tornei-me vivo, mas até a isso renuncei, sem ao menos pensar o quanto tudo isto me faria falta.
Guerreei pelo bem, sim derramei sangue alheio, feri pessoas, mas aquelas que ameaçavam a paz e a quietude de um lugar pleno, de um lugar quase perfeito, lugar este construído pelas tuas mãos e governado pelo teu coração justo e bondoso.
Mas pequei gravemente, deixei-me levar pelo meu instinto, pela ganância, pelo meu lado obscuro, levantando a espada que me destes, para defender o meu lar, o meu povo. Me rebelei contra todos aqueles que me deram a vida, que fizeram-me sentir quanto é importante ser amado e reconhecido, mesmo que eu não valha quase nada, ou talvez nada.
Estou mergulhado em trevas e dor, estou entregue ao submundo das minhas paixões, estou condenado à culpa e à derrota, sou um traidor, sou o mal personificado, não há como me salvar desta sentença, que deve ser tão severa e justa, pois a lei deve ser cumprida e aplicada, por mais que eu saiba que apesar dos meus graves erros, em mim ainda confia o teu carinho, o amor de um pai, a proteção de um irmão, a compaixão de um ser humano.
Eis aqui as últimas palavras de um condenado, não à morte, pois a mesma seria tão pouco aos crimes por mim cometidos, mas à dor eterna que me acompanharás em todo lugar que eu estiver, mesmo depois de morto. Sou covarde, falta-me humanidade e hombridade em minhas entranhas, para permitir-me revelar quais são os meus crimes, entretanto a história revelará um dia à todos, transparecendo o ser digno de pena que sou. Que deus tenha piedade de minha alma, se assim eu merecer.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O Amor

Certo dia me disseram que quando mais velho aprenderia a conjugar o verbo mais importante e idealizado por todos, o verbo AMAR, como um menino comum e inocente como qualquer outro, acreditei nessas palavras, assim como se acredita na existência de tantas outras coisas, quando se é um mero garoto. O tempo foi passando, fui envelhecendo, e comecei então a entender de fato o que esse verbo transmite, a sua essência, a sua força, o seu poder, e constatei que esse verbo não é um verbo qualquer, não expressa uma atitude simples ou corriqueira, mas sim algo tão singelo e esplendoroso, como a descoberta de uma grande e bela verdade. Contudo, tal verbo tem a capacidade de inocular veneno de poder inimaginável, veneno esse que não acaba com o corpo, mas desfalece a alma, a desmenbrando, parte à parte, lentamente, como se existisse um carrasco em nosso interior, nos maltratando até que peçamos trégua ao amor.
Bom, digamos que tudo que exista seja dual, constituído da porçao positiva e da porção negativa, essa regra também se aplica ao amor, mesmo assim tudo muda, tudo se altera com a chegada do amor, transformando pessoas equilibradas, em sujeitos apaixonados e fora de si, pessoas frias, em pessoas ardentes como o fogo da paixão, vidas sem sentido em casais completamente apaixonados, uma pequena mostra de sua latente força que se engrandece ao passo que aumenta o laço entre os amantes.
O amor faz chorar, suar, faz perder a fala, faz esquecer dos problemas, faz com que queiramos viver, quando não mais existe esse desejo, faz que sejamos crianças, quando já estamos repletos de cabelos brancos como as nuvens, parece que tempo e espaço é algo incapaz de atingi-lo, quando o mesmo se faz presente e demonstra sua real força, como é belo o amor.
Porém eu já citara anteriormente que nem o amor foge à regra da dualidade, nem mesmo o amor...
Amar pode enlouquecer, pode tirar a paz, o sossego e a concentraçao, amar pode magoar, pode distanciar as pessoas, amar pode verter lágrimas da perda, saudade ou decepção, amar pode nos tornar tristes, saudosos ou rancorosos, amor pode virar perda, tragédia e morte, vide Romeu e Julieta.
Digamos que eu já conheça o Amor, embora não tenhamos grande intimidade, já fomos apresentados anteriormente, apesar de que eu note facilmente que o mesmo não deseje se aproximar tanto, causando em mim a sensação de que é melhor me manter sóbrio, já que não adianta forçar uma aproximação.
Concluo então afirmando que a face mais bela e ditosa do amor não me fora revelada ainda, e talvez nunca será, apesar disso, ainda mantenho uma pequena dose de esperança, pois creio que sem o mínimo de esperança nos tornamos vidas sem sentido, quase nos igualando à um ser inanimado, portanto ainda tenho fé. Fico feliz que um dia o amor aceitou pelo menos me cumprimentar, mesmo que rapidamente, e trocar uma ou outra palavra, mesmo que essas tenham sido levadas com o tempo, nem todos possuem o direito de o conhecerem de fato.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Um Certo Alguém( Uma Agradável Surpresa)

Conheci um certo alguém, mais precisamente uma garota, uma pequena garota, digamos que chama-la de pequena é uma forma carinhosa, pois ela é alta. Certas vezes ela se apresenta como a já citada garota, quase normal, quase comum, quase calada, sim ela fala muitas vezes com sinais e silêncio, é preciso um pouco de manejo para faze-la soltar-se, de forma a expressar o que pensas ou sente. Outras vezes ela se manifesta como um livrinho, fechando-se de forma a tornar-se inacessível, outras vezes carinhosa e surpreendente, com uma aparencia singela como a de um coelhinho, além dessas formas, ela sofre ainda outra mutação e surge como um ser sombrio e misterioso, uma vampira seria o mais próximo da imagem que ela assume neste caso.
Bom, tudo isto que eu coloquei é fato consumado, entretanto há coisas que não se enxergam à olho nú, certas coisas que exigem percepção e grande capacidade de análise, e de forma até hilária ela me entregou detalhe por detalhe de sua personalidade que a perfaz.
Isso de certo me intriga e me estimula a descobrir mais e mais, volto a repetir, apesar dela esconder-se atrás de seus mistérios e de suas senhas.
existem inúmeras pessoas que desejamos ter maior contato, amizade ou qualquer outra relação, sendo que muitas vezes atingimos esse objetivo, outras vezes não. Entretanto, existem aquelas pessoas que nada mais desejamos do que apenas uma relação amistosa e cordial, e derepente é encontrado um ponto em comum, um ponto de equilíbrio, permitindo maior contato, maior conhecimento desta outra pessoa que passa a chamar-lhe maior atenção, sim, maior atenção, talvez seja a palavra adequada ou próxima para expressar o que pretendo dizer aqui.
Surpresas nem sempre são agradáveis, no entanto outras vezes elas são bem agradáveis, o inesperado pode ser saboroso...
Uma pessoa bastante fechada, que esconde a sua real essência, a guarda de forma tão zelosa, que acaba por deixar escapar detalhes, a quem possui um olhar diferenciado, deixa claro que não usa as palavras, ou dela pouco as usa para expressar o que sente, por mais que ela tente evidenciar o que sente, ela guarda em suas páginas, em sua boca, em seus pensamentos, mas ela é nova, e não deixa de ser doce, ela só não gosta de assumir.
E assim ela segue, entre poucas palavras, olhar profundo(talvez ela fale com os olhos), risadas inocentes, e sonhos e sonhos, e meninice, e sempre à procura de respostas para as suas questões, suas dúvidas, os seus próprios mistérios.
Um certo alguem, uma ótima surpresa e mais algumas palavras minhas, ou meus pensamentos expostos, nú e crus, sem pudor ou qualquer sentimento de repressão ou timidez.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Um Homem Iluminado

Havia um jovem, de olhos negros como a noite, e grandes, que impressionavam quem os via, de cabelo liso e preto. Seus traços eram finos, sua pele suave, seu andar vívido, assim como a maioria dos jovens. Sempre acompanhado de adornos preciosos em seu corpo e vestido do melhor tecido encontrado em sua nação, este jovem não conhecia a dor, a pobreza, a tristeza, pois sempre esteve enclausurado no reino em qual vivia, acompanhado de sua família, e dos soldados que muito bem guardavam os portões deste local. Este jovem passava seus anos sempre da mesma maneira, vivendo em um mundo à par da verdadeira realidade, rodeado de guardas, alimentando-se do melhor que pudera haver, um príncipe de fato, o palácio em que morava era suntuoso, constuído com tudo que havia de melhor, salões imensos, estátuas em tamanho real, decorado com as mais invejáveis pedras preciosas, plantas de imensa beleza, e chafarizes de água tão límpida, que refletiam a imagem de qualquer ser. Mas sua mente era rodeada de dúvidas, questionamentos, e quanto mais esse nobre jovem crescia, mais surgiam dúvidas, mais ele desejava conhecer o mundo de ''verdade''.
Então, certo dia, com a chegada da noite, mais exatamente pela madrugada, este jovem escapoliu por entre os portões, enquanto dormia os soldados responsáveis pela guarda do mesmo, pela primeira vez este jovem entrou em contato com tudo que havia no mundo, com tudo que ele desejara conhecer. E isso, de fato o chocou, o impressionou, seus olhos avistaram coisas que ele jamais conhecera, a dor de um enfermo, a pobreza de um infortunado, a sujeira das ruas, a discussão, a briga, e isso tudo causara tamanha mudança em seu interior, o belo jovem nunca mais seria o mesmo.
Sua família continuaria a trata-lo da mesma forma, seus amigos, o lugar, tudo continuava a ser regido da mesma forma, porém sua mente nunca esteve em contato tão profundo para consigo próprio, os jogos, a diversão, tudo que ele costumava participar no palácio em qual vivia, não parecia fazer mais sentido à sua existência.
Seus familiares e amigos notaram que o jovem de olhos grandes não era mais o mesmo, contudo, não entendiam o que causara tamanha mudança no mesmo, e o vinham cada vez mais dedicado à leituras, pensamentos, reflexões, dentre outras atividades, nada compatíveis para com a sua idade.
Certo dia, o jovem olhara com profundidade para os adornos dourados que se espalhavam em seu corpo, e se questionava em voz alta: -Não entendo o porque destes enfeites em meu corpo, eles não me fazem bem algum, eles não me transformam em um ser melhor, não os quero como parte de mim, os retirarei, somente a manta me cobrirá, a partir de agora.
Sua mãe ouvira, palavra por palavra, e percebia de forma esclarecedora que seu amado filho mudara, assim como a noite se transforma em dia, assim como a morte se transforma em vida.
Completou-se um ano e alguns meses após a ida do jovem às ruas de seu país, desde então, apesar da desconfiança da mudança, das conversas que aconteciam nos corredores do palácio entre a família do jovem, ninguém se colocara de forma a questiona-lo diretamente, até que certo dia, seu primo, o ente mais próximo e amigo deste jovem, deparava-se com o mesmo no exuberante jardim do palácio, e perguntara sem pudor: -Amado primo, o que está acontecendo com você, porque tamanha mudança em seu comportamento, porque pouco fala, e nossas brincadeiras, nossos jogos, nunca mais se interessou, vejo apenas caminhando pelos corredores do palácio, como quem anda sem destino, despiu-se de tuas jóias, sentas no jardim, sozinho e parece conversar com as rosas, como se delas arrancasse palavras, diga-me primo, o que te aflige?
O jovem, de maneira tranquila respondera à seu primo sem ponderar: _ Primo, sabes que te amo, do fundo de meu coração, não sabe?! Não estou triste, não esqueci do carinho de minha família, nem de você, quanto as jóias, as retirei porque não vejo benefício algum em usa-las, é apenas uma forma de destacar-me dos demais, e o que desejo é ser comum, como a roupa de um pobre, é ser livre, como um pássaro e sútil como esta rosa que aprecio, é isto que procuro, meu primo.
E então após mais uns dois ou três meses, o jovem deixava o palácio, com o consentimento de sua família, apesar da discordância.
E assim, o jovem tomava as ruas por completo, conhecia a gente comum que desejava, buscou o alto conhecimento, as explicações para os seus questionamentos, a liberdade para a sua alma, andando e apreciando a sutileza das flores e rosas que sempre o acompanhavam, aprendeu a meditar, tornou-se um sábio adulto, despindo-se de qualquer vaidade ou orgulho que pudesse transvia-lo.
As tentações foram muitas, o julgaram como um ser divino, como um deus em forma de gente, mas nada disso a ele interessava, ele só desejava a paz interior, o auto-conhecimento, a verdade absoluta e liberdade.
Levava às pessoas a sua bondade, uniu-se à grupos, derrubou antigos conceitos, filosofou, sem em momento algum se vangloriar, sem momento algum pensar que era superior a qualquer um de seus companheiros.
Com o tempo o jovem envelhecera, até tornar-se um idoso, sempre dedicando-se ao esclarecimento das pessoas, quanto as dúvidas relacionadas à vida e à morte, sem exitar um momento sequer quanto ao seu dever, julgado como um martírio por muitos, mas um enorme prazer para ele.
E em certa manhã, levantara junto com o sol, que parecia o cumprimentar, banhou-se nas águas límpidas e calmas de um riacho, próximo ao retiro que se encontrava, tomou chá com seus companheiros, conversaram sobre as coisas simples da existência humana, e lá pela tarde, decidiram meditar.
O clima era ameno, o sól despedia-se deste puro homem e seu grupo, o capim era verde e suave, como um tapete, a paz se mostrava ali presente. O agora ancião, encontrava-se em meio à duas enormes árvores de aparência exuberante, cobertas de flores de pétalas suaves e da mesma coloração do entardecer do sol.
O ancião iluminado, sentira que de fato, era o seu último suspiro como homem, que este era o último momento que lhe prenderia à carne, e assim, ele deitava-se, de forma sutil, e deixava a vida terrena, deixava o corpo de velho, e voava em direção à tantos outros mundos que lhe aguardavam.